Por Wagner Hosokaw
Sei que o título não é novo e que já foi utilizado para reflexão, angústias e dialogo sobre os rumos do nosso partido, mas volta a ser necessário. No último dia 09 de dezembro deste ano (2010), nosso partido convocou a sua militância para uma reunião de executiva ampliada para debatermos a posição do PT e nossas ações frente ao trecho norte do Rodoanel apresentado pelo governo estadual tucano ao nosso governo municipal.
Motivos para não aceitar a proposta do trecho norte não nos faltaram na apresentação dos companheiros da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (muito clara e competente por sinal), onde a proposta do governo atinge a zona norte da capital (SP) e a nossa cidade. E justamente em Guarulhos haverão grandes impactos sobre equipamentos públicos (o traçado do Rodoanel passa literalmente por cima de adutoras de água e estação de tratamento de esgoto do SAAE, escolas, praças, etc), não dá acesso ao sitio da Candinha na região do Sto Dumont, desapropria ou simplesmente desocupa milhares de famílias de suas casas e gera um muro que divide a cidade de seus cidadãos e cidadãs.
Compreendo bem a posição do nosso governo municipal. Em diversos momentos buscamos o dialogo sobre a construção dos presídios, da Febem (Fund. Casa), nas enchentes do Vl. Any, e em diversas outras áreas. A resposta do governo estadual tucano sempre foi o “não”ou a imposição autoritária sobre nosso município. Dialogo não foi o forte dos governos Covas-Alckimin-Serra, onde em áreas da CDHU que poderíamos ter mais moradias vieram os presídios, em desrespeito aos movimentos de direitos da criança e do adolescente venho a imposição das Febens e a resposta do governo estadual nas enchentes do Vl. Any venho o silêncio diante do muro da vergonha que o prefeito Kassab faz na divisa com a região.
Bem e agora sobre o Rodoanel? Estratégia é a arte de saber como chegar ao objetivo a partir de várias frentes, e no quadro das nossas táticas esta o governo, o partido, a bancada de vereadores, os movimentos sociais e a população organizada. Podem ser várias frentes com tarefas diferentes? Claro.
Entendemos que cabe o governo discutir tecnicamente os itens que trazem prejuízos a cidade e a população (o que já esta sendo feito), a bancada de vereadores em buscar a organização do povo (isto já esta sendo feito), os movimentos sociais com o trabalho de debater suas posições (que também esta sendo feito), e o partido…que precisa ter uma posição política.
E é nisso que quero me deter. A nossa reunião foi boa, bom debate, revelador. O que me incomodou foi o tom diante de algumas propostas.
Nós da Articulação de Esquerda (AE), tomamos posição interna para que o partido tomasse uma posição contrária ao Rodoanel diante do modelo viário proposto e a forma autoritária do governo estadual tucano. A posição do partido é uma resposta política. É de enfrentamento ao debate com a sociedade. Os resultados da luta e da posição do partido devem ser inclusive o acumulo de forças que teremos no final.
Mas essa proposta foi combatida por alguns companheiros (se são mesmo companheiros), de forma extremamente desrespeitosa. Fomos acusados de 1) apresentar proposta com viés de “movimento estudantil”; 2) que seria ruim governo e partido terem posição diferentes; 3) que seria ser “do contra”; 4) que o “povo” quer o Rodoanel por conta do “progresso”;
Bem a cretinice política existe. A amnésia política também. E por isso é preciso botar os pingos nos “is”.
Ter uma proposta derrotada não é o problema, vários companheiros apresentaram sua divergência com relação a nossa posição, de forma fraterna. Agora vamos lembrar que:
1) O movimento estudantil tem longa historia de lutas em nosso país e nosso mundo. Se existe Petrobras (e vários companheiros encastelados nos seus cargos – bem pagos por sinal), se deu por luta do movimento estudantil. Se a presidente Dilma está eleita, foi nossa candidata e agora presidenta, ela mesmo venho do…movimento estudantil. Inúmeras lutas e propostas que levaram a vitória do PT e do presidente Lula foram das resistências do movimento estudantil;
2) O governo e partido na disputa da sociedade nem sempre caminharam juntos, no debate da taxa de luz proposto pelo governo Eloi enfrentamos o debate no partido. Na defesa da emenda 29 para Saúde o PT nacional fez inclusive campanha a favor da sua aprovação e o próprio presidente Lula solicitou que a bancada do governo votasse contrária a proposta; Contradição? Não, o governo é liderado pelo PT, mas tem nas suas alianças o cerne das contradições;
3) Nunca propomos ser contra o Rodoanel (por ser contra) ou simplesmente dizer “não” – ou melhor dizendo, o PT ao longo dos seus 28 anos enfrentou grandes debates inclusive sendo contrário a medidas que prejudicaram o povo brasileiro. Dissemos não a divida externa e lutamos por uma nação independente do jugo financeiro do FMI, dissemos não a ALCA e por uma nação soberana, dissemos não as privatizações e na defesa do patrimônio e das riquezas nacionais. Ou seja, se dissermos “sim” submissamente a estes princípios com certeza não teríamos nem eleito Lula, e nem tornado o PT referencia de luta contra projetos de desenvolvimento que só atendem o “progresso”das elites brancas do país;
4) “Progresso” é a desculpa que fez com que as elites – empresáriais, latifundiárias, empreiteiros e banqueiros – pudessem as custas do povo brasileiro, explorar cada vez mais os trabalhadores/as que esperam o “bolo crescer” até os dias atuais. O governo Lula redistribuiu a riqueza arrecadada pelo poder executivo e não a que é consumida vorazmente por estas elites. Em nome do “progresso” querem privatizar/ internacionalizar a Amazônia, em nome do progresso Chico Mendes foi assassinado no Acre pelos grandes empresários e latifundiários, em nome do progresso o governo estadunidense promoveu as guerras do Alfeganistão e no Iraque;
Nosso debate é de que progresso estamos falando? Qual é o nosso modelo de progresso pergunto aos “sábios”companheiros defensores do modelo predatório e anti-povo diante do Rodoanel?
Mas o que mais me incomoda neste debate é a perda da capacidade de debater idéias, propor ações e fazer a luta política a favor de uma sociedade mais justa econômica, social e política. Alguns estão de fato embriagados com a ilusão do poder.
Sinto informar que o povo nos deu um mandato (de quatro anos), e nos avaliará a cada nova eleição. Se não disputarmos as consciências e não politizarmos a sociedade esta mesma população decidirá pela mudança conservadora. Só que ai será tarde, pois na cabeça de uma parte da sociedade, os conservadores (aquele que se conserva em algo ou algum lugar), seremos nós.
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