domingo, 14 de agosto de 2011



Conheça o manifesto “Inaugurar um novo período”

O texto que segue abaixo é o manifesto “Inaugurar um novo período”, apresentado como subsídio ao debate no I Congresso da Articulação de Esquerda, corrente interna do Partido dos Trabalhadores (PT), da qual os apoiadores deste manifesto desligaram-se no dia 29 de julho de 2011.

3ª parte do manifesto "Inaugurar"

44. Acreditamos que um salto qualitativo em nossa elaboração, em nosso programa, em nossos métodos em nossa orientação política pode contribuir para abrir um processo onde o conjunto do PT se repense , se reposicione.

45. Com isto, espera-se construir um campo petista, de esquerda que nos uma à aquelas e aqueles que compreendem e reafirmam a disputa do PT como uma questão estratégica. Um movimento que possibilite a criação de espaços para debates de fundo, até então subestimados. Não somos, como afirmam alguns, uma “esquerda comportamental”, menor ou ingênua, que ignora a base estrutural dos fenômenos sociais.

46. É por isso que, entendendo as contradições e limites, defendemos relações mais orgânicas - sem pretensão de tutela – com todos os movimentos sociais: feminista e de mulheres, das negras e negras, da juventude, da cidadania LGBT, dos trabalhadores e trabalhadoras urbanas e rurais, das populações do campo e da floresta, dos direitos humanos, pela democratização da cultura e comunicação. Em especial acreditamos que é necessária a reconstituição de relações com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, que já foram muito mais profundas. Com respeito às diferenças e à autonomia de cada espaço, mas entendendo que é possível fortalecer nossa atuação conjunta no PT e nos movimentos. Defendemos a retomada de nossa frente de massas como elemento estruturante de nossa política.

47. Devemos ser nós os porta-vozes no partido da denuncia contra a criminalização dos movimentos sociais, os de levantar cotidianamente a necessidade da reforma agrária, da luta pela redução da jornada de trabalho, do combate ao extermínio da juventude negra, da equiparação salarial e de direitos entre homens e mulheres, da criminalização da homofobia e da necessidade do Partido d@s Trabalhador@s compreender essas pautas como estratégicas.

48. Não é formal, nem diminuto. Não há socialismo sem feminismo, sem racismo e sem homofobia.Não há socialismo sem que a juventude seja elevada a condição estratégica que ocupa em nossa sociedade e como afirmamos em outrora. Não basta carregar bandeiras, a juventude precisa receber investimento e estabelecer-se protagonista.

49. Não, essas questões, não nos são menores ou do “campo do privado”. Falamos da igualdade plena entre mulheres e homens, entre brancos e “não-brancos”, entre adultos e jovens. Falamos do direito ao próprio corpo, do fim das diferentes hierarquias e exclusões, do reconhecimento da diversidade, da pluralidade, da autonomia. São questões que têm centralidade na construção de um projeto socialista e libertário.

50. No Brasil, a classe trabalhadora foi constituída a partir da força de trabalho de negros e negras. Essa constituição, combinada com o racismo e o patriarcado institucional com a ausência de garantias de direitos e de políticas de reparação, inegavelmente condicionou algumas marcas de opressão registradas em nossa historia que perpetua homens e mulheres negras na base do proletariado, no subemprego e nos postos mais precários de trabalho, nos maiores índices de violência entre as mulheres e de mortalidade entre os jovens. Por isso afirmamos, o enfrentar o racismo concatena uma luta com classe e com raça.

51. As experiências das últimas décadas demonstram a insuficiência de uma política de esquerda que não buscou, de fato, resolver a subalternidade das mulheres. A ação do movimento feminista produziu transformações, que têm se desenvolvido, nas últimas décadas, e não se limitaram à consagração de direitos formais. Foi um processo que atingiu e ainda continua abalando as próprias organizações, partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais – profundamente machistas.

52. É fundamental compreender que a discriminação contra as mulheres não apenas tem relação com o poder econômico, mas com o sistema de uma dominação masculina que é “universal” e hegemônica. Não se trata de dar primazia ou ao gênero ou a classe social, mas entrelaçar esses eixos de dominação entre si e com outros, esquecidos por formulações socialistas que não incorporam o feminismo, a reflexão anti-racista ou a denúncia da heteronormatividade.

53. Claro que ao enfrentar e combater as concepções conservadoras e de direita sobre o papel das mulheres e outros sujeitos históricos subalternos – negros/as, homossexuais, jovens, trabalhadores e trabalhadoras urbanas e rurais do campo e da floresta, as organizações de esquerda e os partidos políticos progressistas foram e têm sido obrigados a incorporar e impulsionar esses debates - que tem influenciado as relações no campo político e da sociedade.

54. No entanto, a intensidade e consistência do compromisso com essa pauta ainda são baixas. Nesse contexto, é possível entender o afastamento orgânico desses sujeitos das estruturas de comando, dos processos de formulação e decisão. O PT e boa parte da esquerda brasileira tem dificuldades profundas para incorporar essa agenda. Isso se evidencia, por exemplo, no debate sobre aborto legal, ações afirmativas, laicidade do Estado, casamento entre pessoas do mesmo sexo, distintos arranjos familiares, legalização das drogas, enfim, uma série de pautas “libertárias”.

55. Para enfrentar esta realidade é necessário trazer para o centro do programa e da nossa ação tais questões, historicamente desprezadas por parte dos que reivindicam o marxismo. A igualdade plena não pode ser um conjunto de referências e discursos ao vento, tem que ser uma práxis política.

56. Não acreditamos que é possível ser socialista sem considerar com centralidade esse conjunto de opressões a serem superadas. Acreditamos que é necessário construir no PT, na esquerda, nos movimentos sociais, a percepção concreta de que a contradição de classe não é a única contradição, nem se estabelece sozinha.

57. É necessário constituir opinião pública sobre essas questões, somar-se a aliados históricos para impulsionar um novo momento político que aprofunde as questões programáticas, que realize agitação e propaganda do socialismo, que retome a iniciativa de disputar no PT nossas opiniões acerca dos grandes temas, não só das pontuais pautas das reuniões do DN. Afirmamos, o PT está em disputa, tal qual o governo o está e é exatamente pó acreditar que é possível retomar nosso protagonismo como esquerda petista que afirmamos uma caminhada de livre debate. Que ao mesmo tempo que nos ajude a aprofundar nossas formulações, permita a cada vez mais companheiros e companheiras a assumirem tarefas dirigentes, que nos forgem de conjunto numa organização política a altura de responder as demandas de nossa conjuntura.

58. É preciso que essa opinião, que nossas formulações ocupem o campo da disputa institucional dentro e fora do PT. Precisamos estabelecer periodicidade de debates entre a companheirada que ocupa algum tipo de função no governo federal, bem como estabelecer na pauta política da tendência fóruns regulares de debates entre nossas experiências de governos municipais e estaduais.

59. Precisamos também estabelecer uma relação mais orgânica com os mandatos parlamentares ligados a Articulação de Esquerda. Nossas pautas precisam estar expressa de conjunto em todas as frentes de atuação em que temos militantes.

60. É o caso, por exemplo, da reforma política. Uma resolução nossa, que afirme a participação popular através da quebra da clausula do chamamento de plebiscitos circunscritos ao congresso, da afirmativa de paridade entre homens e mulheres nas propagandas, nos recursos e na oportunidade de voto em lista, bem como a elevação da juventude como no caso de algumas experiências européias.

61. Enfim, sabemos que essa jornada não é meramente abstrata. Ela deve nos levar a compor um novo corpo dirigente para a nossa tendência, comprometido com esse esforço reflexivo, qualitativamente distinto, socialmente diverso, formatado para criar novas formas organizativas e novas relações políticas.

62. Um coletivo de direção efetivamente plural, renovado do ponto de vista geracional, composto paritariamente por mulheres e homens, com um funcionamento que propicie o compartilhamento das decisões, das informações, das formulações. Uma direção forjada em distintas experiências, com dirigentes do movimento social, parlamentares, executivos, intelectuais, gestores, dirigentes partidários, e que represente todos os estados onde a AE esta presente.

63. A AE - se quiser continuar a existir com algum sentido estratégico - está desafiada a ser um pólo dinâmico dentro do PT, vocacionada a impulsionar um movimento amplo por mudanças, capaz de atrair militantes combativos, jovens ativistas, feministas, lutadores negras e negros, trabalhadores do campo, engajadas lésbicas, gays e trans, sindicalistas inquietos, intelectuais, petistas rebeldes e outros quadros que já estiveram na mesma trincheira nossa mas se afastaram. Lutadoras do povo!

Abrir um novo período, à isso se deve esse I congresso.
Vida Longa ao Socialismo
Vida Longa a Articulação de Esquerda
Vida Longa ao PT!

Nenhum comentário:

Postar um comentário