sexta-feira, 15 de maio de 2015

Igreja Católica abre-se à teologia da libertação enquanto seu fundador é recebido no Vaticano.




Durante décadas, Gustavo Gutierrez, teólogo peruano e padre dominicano, foi tratado com desconfiança e até mesmo com desprezo pela hierarquia do Vaticano, que o viam como um marxista agitador perigoso que usava a fé como um instrumento de revolução. 

Gutierrez foi o fundador de um movimento progressista dentro da Igreja Católica conhecido como a Teologia da Libertação, e embora nunca tenha sido censurado da forma que alguns de seus compatriotas de filosofia foram, com freqüência, havia rumores de que Gutiérrez estava sendo investigado pelo czar doutrinal do Papa João Paulo II, um cardeal alemão chamado Joseph Ratzinger que depois se tornaria Papa Bento XVI.

A reportagem é de Stephanie Kirchgaessner e Jonathan Watts, publicada no sítio do jornal britânico The Guardian, 11-05-2015. A tradução é de Claudia Sbardelotto.

Entretanto, quando esse peruano de 86 anos de idade chegar a Roma esta semana como um dos principais palestrantes em um evento do Vaticano, ele será recebido como um convidado, em uma demonstração impressionante de como o Papa Francisco - o primeiro pontífice latino-americano - está trazendo para o primeiro plano da sua Igreja alguns dos princípios desse movimento, muitas vezes, considerado controverso, particularmente em seus pronunciamentos contra o flagelo da pobreza e os perigos do capitalismo.

Em seu auge no final dos anos de 1960 e 1970, a teologia da libertação - um movimento americano distintamente latino - pregou que não era o suficiente para que a Igreja simplesmente tivesse empatia e cuidado pelos pobres. Em vez disso, diziam os seus seguidores, a Igreja precisava de ser um veículo fundamental que pressionasse por mudanças políticas e estruturais a fim de erradicar a pobreza, mesmo - alguns acreditavam - se isso significasse apoiar a luta armada contra os opressores.

O Papa Francisco nunca proclamou ser um teólogo da libertação e, de acordo com biógrafos papais, até mesmo foi um crítico dos aspectos do movimento ainda quando era conhecido como Padre Bergoglio em sua terra natal na Argentina.

"Ele era muito crítico da versão marxista liberal da teologia da libertação", disse Austen Ivereigh, que escreveu uma biografia do Papa Francisco. "Naquela época, você tinha movimentos de esquerda na América Latina, mas na verdade eram movimentos de classe média, que Bergoglio acreditava utilizavam os pobres como instrumentos”. Tinha uma frase que ele usava que dizia que eles eram a favor do povo, mas nunca estavam com eles.

Mas desde a sua eleição como pontífice, em 2013, através de sua insistência de que a Igreja seja "para os pobres" e com seus criticismos ao capitalismo e ao consumismo, um longo caminho vem sendo trilhado para a reabilitação do movimento da Teologia da Libertação e sua incorporação dentro da Igreja. 

Especialistas apontam, também, para a decisão de Francisco para declarar Oscar Romero, arcebispo salvadorenho que foi assassinado por esquadrões da morte de direita em 1980, como mártir como outro sinal do ressurgimento da Teologia da Libertação.

Outro teólogo que estudou com Gutierrez, Michael Lee, da Universidade Fordham, disse que Francisco está "aberto" à teologia da libertação porque ele compreende as estruturas sociais e econômicas que "desumanizam as pessoas".

"No coração da teologia da libertação está o evangelho - a boa notícia do cristianismo - que não é puramente interior, mas precisa tratar um dos problemas mais prementes do nosso tempo, e isso é a massiva pobreza global", afirma Lee.

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