quinta-feira, 14 de março de 2013

Clelia diz que o novo Papa é uma pessoa de hábitos simples e nega sua colaboração com a ditadura militar argentina.


Amiga do Papa ressalta trabalho com pobres.

Viúva de um bispo católico, Clelia Luro de Podestá diz que o novo Papa é uma pessoa de hábitos simples e nega sua colaboração com a ditadura militar argentina.

O novo Papa é uma pessoa simples, muito inteligente e que tem um forte compromisso com os pobres. Um homem que prepara a própria comida e que não se furtará a fazer muitas mudanças na Igreja Católica.

Trata-se de um prelado tão pouco ligado à ostentação e ao luxo que, como arcebispo, não usava uma cruz de ouro no peito, mas uma feita de ferro.

As revelações são de uma das melhores amigas do novo papa, uma argentina de 81 anos que é viúva de um bispo. É isso mesmo: Clelia Luro de Podestá casou-se, em 1972, com o bispo católico Jerónimo José Podestá, que morreria em 2000.

Ela tinha seis filhos do primeiro casamento e estava separada do marido quando conheceu o então bispo de Avellaneda e tornou-se sua secretária.

A relação dos dois teve grande impacto na Igreja argentina e no Vaticano, o que não impediu a amizade entre Clelia e o arcebispo de Buenos Aires.

Ela só conheceu Jorge Mario Bergoglio há 13 anos, quando seu marido estava em coma em um hospital católico.  Nos últimos anos, passou a encontrar-se ou a falar por telefone com o cardeal Bergoglio pelo menos uma vez por semana.

Nesta quarta-feira, de sua casa em Buenos Aires, ela se disse muito feliz com a escolha do amigo para líder da Igreja. Afirmou que ele é um “jesuíta valioso”, de um “poder de oração muito forte”. Um Papa que tem condições de “purificar” a Igreja.

Para ela, Francisco fará um pontificado como o de João 23 (Papa entre 1958 e 1963, um dos principais renovadores da Igreja).  Segundo ela, o novo papa, em seu empenho para fazer mudanças, poderá até mesmo convocar um novo concílio.

Clelia contou que o amigo quase virou Papa no conclave anterior, em 2005, que acabaria elegendo Bento 16. Disse que ele chegou a ter 40% dos votos, mas, com a cabeça, sinalizou para que não fosse escolhido.

“Ainda não havia chegado a hora”, afirmou. Segundo ela, Bergoglio nunca ambicionou o poder. “Mas, para o bem da Igreja, ele foi escolhido”, disse. Clelia frisou que o cardeal, que vive só, anda de ônibus e de metrô e que vai às favelas conversar e tomar mate com os pobres. 

Na UTI, o carinho e a ajuda do cardeal

A grande amiga do Papa é autora de um livro — ‘Meu nome é Clelia’ — em que narra problemas que seu casamento com um bispo gerou junto à Igreja argentina e o Vaticano.

Nesta quarta-feira, a viúva do bispo Jerónimo Podestá contou detalhes de como conheceu o novo Papa, durante a internação do marido na UTI de um hospital católico.

Disse que o cardeal Bergoglio rezou a oração dos enfermos para o bispo. Ele ainda determinou que ela pudesse ficar o tempo todo ao lado de Podestá — as freiras do hospital queriam limitar suas visitas a escassos quinze minutos por dia.

Clelia se irritou diante da citação de que o novo Papa colaborou com a prisão de dois padres. Diz que isto é uma mentira e que, ao contrário, Bergoglio atuou para que eles deixassem a Argentina.

Ela afirmou que um dos padres, Francisco Jalics, ainda vivo, mora na Alemanha e faz questão de visitar Bergoglio sempre que vai a Buenos Aires.  Em 2009, Clelia enviou carta a Bento 16 em que defendia o direito dos padres casados.

Estado argentino sustenta a Igreja

A Constituição argentina estabelece que cabe ao Estado sustentar as atividades da Igreja Católica. O governo tem até uma Secretaria de Culto e uma Direção-Geral de Culto Católico.

Cabe a este departamento, entre outras tarefas, propor projeto de orçamento anual para o financiamento do culto católico e até intervir em sua execução.

Esta relação entre o Estado argentino e a Igreja favoreceu a colaboração de padres e bispos com a ditadura militar que vigorou entre 1976 e 1983.

Em janeiro passado, em carta aberta ao Papa Bento 16, Clelia Luro de Podestá relembrou as perseguições sofridas por ela e pelo marido, ambos adversários dos militares.

Relatou o apoio que obtiveram do então bispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara.  Na carta, ela narrou que, ameaçado, o casal precisou partir para o exílio. Disse que seu marido tentou denunciar ao Vaticano o “banho de sangue” na Argentina.

“Mas Roma guardou silêncio”, escreveu. Ela ressaltou a colaboração da maior parte do episcopado de seu país com os militares. 

 

Fonte: Jornal O Dia Online.

POR FERNANDO MOLICA

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