quarta-feira, 6 de maio de 2015

UM POUCO DE NOSSA HISTÓRIA YOUNG FLU.





"ARMANDÃO, UM DOS FUNDADORES DA YOUNG FLU"

(Entrevista Observatório do Fluminense) Carla Andrade
Dezembro 2014

ARMANDÃO veio passar o fim de semana no Rio de Janeiro, ele mora em São Paulo há vinte anos, para prestigiar o evento e assistir a partida do tricolor contra o Corinthians, no Maracanã. E para celebrar os 44 anos da Torcida Young Flu, ele me concede uma entrevista.

Ele relembrou as caravanas memoráveis que fez com a torcida nos anos 70, colocou a importância do Fluminense estar acima de tudo e acalenta um sonho: “Ainda vou ver o Fluminense ser campeão da Sulamericana, ver o Fluminense ser campeão da Libertadores e do Mundial.”

44 ANOS

Armando Alcoforado - Fundamos a Young em 12 de dezembro de 1970. Eram duas facções. Eu com a turma da Arthur Menezes fomos ao Maracanã, num Fluminense x Cruzeiro, com a camisa tricolor. Queríamos fazer uma torcida jovem do Fluminense. Encontramos com o pessoal que veio do Riachuelo, com o Pedruco, e nos unimos para assistir o jogo.

Marcamos uma reunião para a semana seguinte e uns quinze compareceram. Longa conversa sobre conceitos e outros pontos. Surgiu o nome diferente para uma torcida diferente e com uma metodologia completamente diferente. Young Flu. Para mostrar que nosso grupo tinha representatividade, além de dar trabalho para a turma que já existia, a Organizada e a Força Flu.

Tivemos um grande desafio para alocar a Young Flu. Seria atrás do gol?

Atrás do gol tinha uma coisa que ninguém lembra, aquele pessoal das apostas do Maracanã. Eles faziam apostas sobre quem daria a saída ou quem bateria o primeiro escanteio. Era um local onde tinha de tudo. Todo jogo, o pau comia e a gente brigava com aqueles senhores até que eles cansaram da gente e abandonaram o lugar. Foi assim que a Young Flu conquistou o seu espaço, assim que a torcida se fez como uma torcida de jovens guerreiros.

Bateria nota dez de uma torcida nota dez:

Armando Alcoforado - Tínhamos uma bela bateria, era a melhor de todas. Ela era acompanhada por uma torcida apaixonada. Éramos pequenininhos, mas com tudo para crescer. E crescemos. Hoje é a maior facção da torcida do Fluminense. Na época lançamos uma camisa verde com as golas e os punhos grená, só que a Força Flu lançou a blusa verde também, então decidimos usar o branco. Unimos o útil ao agradável e ficou tudo certo.

Hoje é uma torcida conhecida no Brasil todo com mais de 70 mil sócios e inúmeros núcleos. Moro em São Paulo há vinte anos e posso afirmar que o que tem de carioca lá é impressionante. Tanto que montaram o Sampa Flu, local onde nos reunimos para assistir aos jogos. Estimo que, hoje, a nação tricolor está em torno de 10 a 11 milhões de torcedores.

Duas Épocas:

Armando Alcoforado - Vou te explicar o que aconteceu com a Young Flu. O primeiro presidente foi o Pedruco, só que dois anos depois ele faleceu e eu, como era o vice, tive que assumir. E aquilo foi um enorme desafio. Éramos Fluminense e não Young Flu, o que não acontece hoje quando muitos colocam o nome da torcida no lugar do clube.

A tendência foi crescer. Virou ponto de encontro assistir os jogos atrás do gol, junto com o pessoal da Young Flu. Em 1977 eu saí e quem assumiu foi o Gino, um cara gente boa, mas ficou só um ano. Ele deu lugar ao senhor Armando Giesta.

Problemas e desafios:

Armando Alcoforado - A torcida tem alguns problemas, pois é bem difícil você segurar uma torcida com mais de 70 mil pessoas e os abnegados. Vejo as punições que a Young sofre de São Paulo e isso prejudica muito o clube. As torcidas precisam se reciclar, se policiar e evitar brigar com as outras torcidas, pois não ajuda em nada esse tipo de atitude. Temos que ser amigos.

Vim de São Paulo para encontrar com o Sérgio Aiub, que foi fundador da Organizada, e com o Valter Veloso, fundador da Força Flu, e somos todos amigos, cada um dentro da sua filosofia.

A torcida do Fluminense sempre foi independente do clube, desde que começamos. Não dependíamos do clube para nada. Tínhamos três credenciais para entrar antes dos jogos, para empacotar os talcos, guardar as bandeiras e colocar as faixas. Não ganhávamos ingressos. Colocávamos inclusive dinheiro do nosso bolso e também fazíamos lista para coletar dinheiro de torcedores no Maracanã.

Temos uma coisa que ninguém tem, pois a história do Fluminense é única e completamente diferente das dos outros times.

Naquela época fazíamos o trabalho na torcida com muito amor. Acho que falta isso nos dias de hoje. Da torcida e dos jogadores. Não dá para conceber um jogador que beija o escudo do Fluminense e depois beija o de outro time. Desculpa.

Comecei a ver jogos do Fluminense em 1963, no ombro do meu pai. Foi um zero a zero na final contra o Flamengo que sagrou-se campeão. Em 1964, vi o tricolor ser campeão em cima do Bangu e daí em diante passei a acompanhar meu time até fundar a Young Flu

Um time perfeito:

Armando Alcoforado - Trago de recordação times formados por grandes jogadores que ficaram anos e anos no clube. Inesquecível é aquele time de 1969/1970 que tinha Felix, Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antônio; Denilson e Didi; Cafuringa, Samarore, Flávio e Lula. Foi campeão de tudo, inclusive da Taça de Prata, nosso primeiro campeonato brasileiro. Não perdia para ninguém, era um timaço.

Momentos marcantes:

Armando Alcoforado - Foi um prazer ver o Francisco Horta tornar-se presidente do clube, em 1975, e trazer para o Fluminense um dos melhores jogadores que eu vi vestir a camisa tricolor: Roberto Rivelino. O Fluminense só não foi Campeão Brasileiro em 1976 porque caiu uma chuva torrencial no Rio de Janeiro e fomos para os pênaltis contra o Corinthians e perdemos.

Lembro que a torcida do Corinthians afirmou que invadiu o Maracanã, mas eles só trouxeram 40 mil pessoas para o jogo que teve 170 mil de público. O resto era de quem? Era só tricolor.

Caravana inesquecível:

Armando Alcoforado - Fui a diversas caravanas, mas a que eu nunca mais esquecerei na vida foi quando o Rivelino chegou e tivemos o jogo de volta contra o Corinthians, no Pacaembu. Eu, Sergio Aiub e o Valter conseguimos encher um ônibus, 45 torcedores, para um jogo amistoso numa quarta-feira à noite. Chegamos ao Pacaembu que estava lotado. Ficamos entre a bandeirinha do corner e o meio de campo, os abnegados. Eu batendo no surdo cheio de morteiros dentro, pois se desse alguma confusão poderíamos jogar aquilo nos caras.

Começou o jogo: 1 x 0 Corinthians. Pensei que a gente ia morrer naquele dia. Dez minutos depois, Rivelino fez o gol do empate. Pulamos, gritamos. Mas não foi só a nossa torcida, o Pacaembu todo e eu nunca vi coisa igual. Todos gritavam o gol do Rivelino. A essa altura, um torcedor corintiano me diz: “Vocês levaram o maior craque que vestiu a camisa do nosso clube. Estão de parabéns”. Vencemos a partida, com o segundo gol de Marco Antônio, e nós saímos numa boa, ninguém morreu e estamos vivos até hoje. Olha, eu tenho eu que beijar os pés deste cara.

Viajar era tudo. Eu queria acompanhar o Fluminense em tudo o que é lugar. Naquele tempo valia a pena. O jogador ficava anos no clube, vestia a camisa e amava o clube. Hoje, não viajaria como antes. Posso até estar errado.

Brasileiro 2010:

Armando Alcoforado - Acompanhei 2010, quando o Fluminense foi campeão, e vi a invasão que a torcida do Fluminense fez em Barueri. Eu fiquei impressionado. Como chefe de torcida o máximo que levei foi 33 ônibus. Quando cheguei em Barueri vi que 33 eram só da Young Flu. Fora as outras, fora os carros e fora estar na estrada e ver passar vários carros com placa do Rio de Janeiro. Isso não tem preço.

Minha filha que estava comigo ficou surpresa e me disse: “Pai, parece que estamos no Rio!”. O Fluminense com um belo de um time fez a torcida abraçar o clube.

MENSAGEM PARA NOVA GERAÇÃO:

Armando Alcoforado - Primeira coisa, tem que ter objetivo, um foco de incentivar o Fluminense. Cobrar o mínimo necessário, que o profissional honre a camisa do Fluminense. Segundo, torcer pelo Fluminense e não pela torcida. O Fluminense é maior do que nós. O Fluminense fica e a gente passa. Isso é o fundamental. A Young Flu vai ficar e a gente vai passar.

A FILOSOFIA É TORCER PELO FLUMINENSE, É O AMOR E SEM ISSO NÃO HÁ NADA.

Fonte: Observatório do Fluminense Football Club
com: Carla Andrade

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