De Adriana Serafim
A Baixada Fluminense é um lugar corriqueiramente identificado com adjetivos negativos, porém a criatividade, solidariedade e fé na vida marcam muito mais quem a conhece. Também é uma região que concentra uma população imensa e heterogênea.
D. Adriano Hipólito uma voz na defesa dos direitos humanos.
Nesse território se destaca D. Adriano Hipólito, terceiro bispo da diocese de Nova Iguaçu. Dom Adriano Hypolito nasceu na cidade de São Cristóvão – Sergipe, em 18 de Janeiro de 1918. Aos 14 anos entrou para o Convento dos Franciscanos e foi ordenado Padre em 18 de outubro de 1942, em Salvador. Em novembro de 1962 foi nomeado pelo Papa João XXIII, Bispo Auxiliar de Salvador, participando do Concilio Vaticano II, em Roma, entre 1963 e 1965.
Em 1966 foi nomeado terceiro Bispo da Diocese de Nova Iguaçu – que na aquela época, era formado por sete municípios da Baixada Fluminense – onde atuou por 28 anos. Ao tomar posse propôs um trabalho pastoral que dessa resposta aos problemas da Baixada.
No período em que fez parte da Diocese de Nova Iguaçu, defendeu os direitos humanos, atacando veementemente a ditadura ao lado de bispos como Dom Helder Câmara, Paulo Arns, Waldir Calheiros e Pedro Casaldaliga. E, exatamente por isso, foi sequestrado e torturado pela ditadura militar em 22 setembro de 1976, ocasião em que foi abandonado nu, e pintado de vermelho, no bairro carioca de Jacarepaguá.
As intimidações não cessaram e o semanário litúrgico A Folha, de 29 de maio de 1977, foi falsificado aos milhares e distribuído nas igrejas da Baixada Fluminense e enviado para várias partes do Brasil. No dia 19 de junho do mesmo ano, por determinação do Comandante do 1° Exército, foi cancelada uma conferência sobre Direitos Humanos para a constituição de uma Comissão de Justiça e Paz, que seria realizada no Centro de Formação Líderes – CEFOR, no bairro Moqueta, em Nova Iguaçu.
Além disso, seu clero, família e amigos sofreram várias ameaças. E, embora um jornal denominado Movimento, tenha denunciado um tenente da Vila Militar, até hoje ninguém foi processado e julgado pelos atos covardes praticados contra Dom Adriano.
Dom Adriano faleceu em 10 de agosto de 1996, foi um protetor das minorias, apoiou vários movimentos sociais e é uma referência como defensor dos diretos humanos na Baixada Fluminense e que viveu realmente a opção pelos mais necessitados, como podemos notar com a saudação que o mesmo costumava utilizar para fechar as grandes celebrações:“Viva Jesus Cristo. Viva o nosso Povo sofrido da Baixada Fluminense”.
Na breve biografia sobre D. Adriano constatamos sua atuação como bispo na defesa dos direitos humanos na Baixada através da organização de um trabalho pastoral que desse resposta aos problemas vividos por seu rebanho. Essa atuação se pautou, principalmente, por ações de valorização dos moradores da região.
D. Adriano atuava diretamente cobrando das autoridades intervenção e soluções. A frente da diocese de Nova Iguaçu “acolheu” perseguidos políticos, em alguns casos empregando-os na estrutura diocesana, atuou como articulador de diferentes lideranças dos bairros onde a Igreja estava inserida, o que resultou num dos mais bem sucedidos movimentos populares do Rio de Janeiro, o Movimento Amigos do Bairro – MAB, intervinha junto as autoridades quando havia ocupações urbanas de terrenos para garantir aos sem teto a posse da terra – fato que contrariava o interesse dos loteadores e grileiros.
O bispo atuou com rigor em relação à violência. Quando se tratava dos crimes cometidos pelo Esquadrão da Morte, cobrava diretamente das autoridades a investigação, elucidação dos crimes e punição dos culpados; contrariando a principal ideia propagada de que o esquadrão atuava contra marginais. Promovia debates públicos, pesquisas, organização de arquivos. Enfim, D. Adriano atua no sentido de romper com a estrutura da violência dando voz, lugar e identidade as vítimas daquela modalidade de violência.
Oferecer hoje uma homenagem em sua memória é um ato de reconhecimento por parte do Estado do Rio de Janeiro da importância do seu trabalho como cidadão e religioso. Precisamos divulgar seu legado e dar as gerações o direito de conhecer sua história. Também é importante para a produção de uma historia que forje outra memória sobre a região da Baixada Fluminense valorizando a sociedade civil organizada e aqueles que lutaram na defesa dos direitos humanos.
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